“A promoção da saúde prevê um processo a partir do qual os indivíduos e as comunidades estariam em condições de exercer maior controle sobre sua vida, aumentando assim as chances de serem mais saudáveis (Nutbean, 1996). Segundo Buss (2000), é essencial para as iniciativas da promoção da saúde o incremento do poder técnico e político das comunidades (empowerment) na fixação de prioridades e tomada de decisões e na definição e implementação de estratégias para alcançar melhor nível de saúde.”
“a participação dos usuários nos serviços públicos de saúde vem sendo amplamente discutida, considerando ser esse um fator fundamental na qualidade desejada para os serviços.A identificação de problemas e soluções relacionadas às suas demandas contribuirão para ações de saúde mais efetivas (Andrade e Vaitsman, 2002), desenvolvendo nos usuários responsabilidade e o direito, ou seja, a cidadania”
“Novos modos de se fazer saúde devem incorporar como diretriz uma postura que encare os usuários na sua singularidade de sujeitos portadores de direitos, em substituição a uma perspectiva que entende os usuários como suplicantes e beneficiários dos serviços”
“A respeito do serviço de saúde, o usuário muitas vezes delimita o acesso à sua condição socioeconômica e considera de certa maneira natural que a oferta de serviços públicos seja dependente da capacidade do Estado. Percebe e aceita que o serviço é preparado para determinadas queixas e as suas podem não estar incluídas neste rol (Assis e col., 2003). O direito à saúde fica condicionado à existência ou não de recurso - o seu próprio ou o público”
“O próprio serviço de saúde incrementa esse conflito, quando passa a ser seletivo e excludente, já que muitas vezes não oferece o que o usuário necessita. Exemplo claro dessa afirmação pode ser observado nas baixas taxas de comparecimento de idosos a serviços odontológicos nas avaliações de acesso e uso dos serviços. No ultimo Levantamento Nacional de Saúde Bucal, dos idosos examinados 65,69% relataram não consultar o dentista há mais de 3 anos, sendo a dor o motivo da consulta para 48,12% dos que procuraram (Brasil, 2004).”
“Uma questão importante no processo de construção da consciência política é a ressocialização contínua, construída durante as práticas da vida, que surgem, cotidianamente, segundo as oportunidades disponíveis para cada sujeito. Essa questão pode ser observada e construída mediante práticas como o diálogo e a escuta.”
“Pode-se afirmar que na ausência, ou mesmo no não reconhecimento de um sistema formalmente organizado, os usuários, diante da necessidade de tratamento, tentam "se virar" para conseguir a vaga. Inexiste nesses casos a decisão tomada corretamente, resultante de uma consciência crítica e capacidade de intervenção sobre a realidade (Carvalho, 2004).
Percebe-se também que, diante da crença na incapacidade de conseguir por si mesmo uma vaga para tratamento, o usuário busca ajuda com algum conhecido. A relação que se estabelece é a de favor prestado, tornando explícita a falta de poder e de consciência do direito. Para Gonçalves e Verdi (2007), o privilégio do atendimento através de amigos, conhecidos ou parentes caracteriza um abuso da autoridade de quem concede o "favor", desrespeitando simultaneamente a autonomia dos que conseguiram e dos que aguardam por atendimento.”
“Outra estratégia utilizada pelos usuários é a queixa de dor como motivo da consulta. As queixas, segundo Marques e Lima (2007), são construídas social e historicamente, conforme as relações vividas. Embora sem entender a lógica oficial dos serviços, o usuário percebe que dor é prioritária e torna mais rápida a solução do problema por ele apresentado. Além do atendimento à queixa apresentada, o usuário antevê a possibilidade de continuidade do tratamento.”
“Quando o problema é "dor de dente", um percentual de 75% dos usuários indicaram a Univale - centro de referencia para o atendimento de urgência - como o local a ser procurado nesse tipo de situação, desconhecendo outros locais oferecidos pelo serviço público municipal. Dos usuários que disseram buscar a instituição do estudo para o problema de dor 50% relataram que procurariam uma clínica privada caso não conseguissem ser atendidos.”
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